quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Estudo revela alta mortalidade de bebês de adolescentes

 

Por Clarissa Thomé | Agência Estado –  12 horas atrás

http://br.noticias.yahoo.com/estudo-revela-alta-mortalidade-beb%C3%AAs-adolescentes-224000817.html

A cada 24 horas, nove crianças com menos de um ano de idade, filhos de adolescentes, morrem no Brasil. Em 2009, morreram 42.684 bebês - 20% deles eram filhos de meninas de 10 a 19 anos. Os dados fazem parte do levantamento "Estudo sobre as políticas públicas de proteção à saúde infantil e materna no Brasil: um olhar especial para os filhos de mães adolescentes", divulgado hoje pela organização não-governamental (ONG) Visão Mundial, no Recife.
 
"Estamos falando do direito à sobrevivência e ao desenvolvimento da criança e do adolescente. Porque esses números mostram que houve dupla violação. Trata-se de uma morte infantil que não deveria acontecer e da violação aos direitos da adolescente, que não tem uma política pública focada na sua particularidade, que é a de uma mulher em desenvolvimento", afirmou a assistente social Neilza Costa, coordenadora técnica do estudo.
 
Os pesquisadores se debruçaram sobre dados do Sistema Único de Saúde e de outras fontes, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Foi possível observar, por exemplo, que, embora a gravidez na adolescência venha diminuindo nos últimos anos - 20% entre 2003 e 2009 -, esse fenômeno se concentrou na faixa etária de 15 a 19 anos. "Entre as adolescentes de 10 a 14 anos está aumentando a gravidez como também está aumentando a quase 1% ao ano o número de óbitos do bebê filho dessa adolescente", disse Neilza.
 
O estudo cita um dado de 2007, quando meninas de até 14 anos foram mães de 28 mil crianças. "Desses, 625, 628 morrem antes de completar um ano. Não é um número descartável." O levantamento mostra ainda que nem todos esses bebês representam a primeira gestação - para 233 meninas aquela era a segunda gravidez.
 
O levantamento traça também o perfil da grávida adolescente: são de famílias empobrecidas, mais da metade delas são negras ou pardas e 49% estão no Norte e Nordeste. O Sudeste tem o menor registro de mãe adolescente (16,56%), seguido pelo Sul, com 19,85%. A média no Brasil é de 19,92%. "O número de filhos de adolescentes que morre é muito grande, e 60% dessas mortes são evitáveis. São crianças que morrem desnecessariamente como expressão das desigualdades sociais", afirmou Neilza.
 
O estudo faz parte dos esforços da campanha "Saúde para as Crianças Primeiro", da ONG Visão Mundial. "É preciso que o Ministério da Saúde tenha programas específicos para captar mais cedo essa menina para que ela faça o pré-natal e que tenha um pré-natal diferenciado, multidisciplinar", defendeu Neilza.
 
Defesa
Ana Luiza Lemos Serra, coordenadora substituta de atenção à saúde do adolescente do Ministério da Saúde, disse que a pasta tem iniciativas voltadas para esse público, como o Programa de Saúde na Escola e distribuição de cinco milhões de cadernetas de saúde do adolescente, com instruções para o autocuidado. Mas a grande dificuldade tem sido sensibilizar o profissional de saúde.
"Enfrentamos uma barreira que é a questão ética e moral. Alguns profissionais não concebem que uma adolescente de 11 anos possa ter relações sexuais e impedem o acesso ao contraceptivo, à informação. A gente lida com uma questão de valores. Estamos atuando para sensibilizar esse profissional para que tenha um olhar diferenciado", afirmou.

Brasil 'descumprirá meta do milênio para mortalidade materna', diz estudo

O Brasil deixará de cumprir uma das chamadas metas do milênio para a saúde pública porque o ritmo de redução na mortalidade materna foi medíocre na última década, indica um estudo publicado nesta terça-feira na Grã-Bretanha. Embora o país tenha avançado na redução da mortalidade de mulheres por conta de complicações com o parto ou a gestação, o lento ritmo de melhora significa que o país chegaria com 25 anos de atraso às metas que deveria cumprir já em 2015.
A pesquisa foi coordenada pelos professores Rafael Lozano e Christopher Murray, do Instituto de Métrica e Avaliação da Saúde (IHME, na sigla em inglês) da Universidade de Washington, Seattle, nos Estados Unidos, e publicada na revista científica britânica The Lancet.

Os pesquisadores calcularam estimativas para o ano de 2011 levando em conta fontes de dados relevantes que haviam ficado de fora de análises anteriores, como registros de nascimento e óbito, pesquisas nacionais, censos e levantamentos feitos pelas autoridades de saúde.

Segundo as estimativas mais recentes, mais de 65 mulheres em cada 100 mil parturientes morrem no Brasil em decorrência de problemas na gestação ou no parto. Nos últimos onze anos, quando o mundo viu uma redução anual de 3,6% nesta estatística, no Brasil o ritmo foi de apenas 0,3%.

Um dos autores do estudo, Haidong Wang, professor-assistente de Saúde Global do IHME, disse à BBC Brasil que o combate à mortalidade materna teve bons resultados no Brasil entre 1990 e 2000. No período, a taxa caiu de 85,9 para 67 em cada 100 mil, uma redução anual de cerca de 2,5%.

Entretanto, disse Wang, esse avanço foi contido na década seguinte pela epidemia de gripe H1N1 e pela alta percentagem de mulheres que fazem partos cesarianos, nos quais há maior risco de complicações que podem levar à morte.
 "Quando a epidemia de gripe se espalhou, em 2009, matou muitas mulheres que, se não estivessem grávidas, teriam uma grande chance de ter sobrevivido", afirmou. "A epidemia de H1N1 foi um alerta pela necessidade de dar mais atenção tanto a doenças infecciosas, que podem afetar as mulheres durante a gravidez, como a outros fatores crônicos como obesidade."

Metas do milênio
O estudo avaliou o avanço dos países emergentes no cumprimento de duas das metas do milênio, que os países se comprometeram a cumprir até 2015.
Globalmente, a pesquisa estima que o número de mortes relacionadas ao parto caiu de 409 mil para 273 mil entre 1990 e 2011. As mortes de crianças com menos de cinco anos de idade diminuíram de 11,6 milhões para 7,2 milhões no mesmo período.

Apesar do avanço, apenas nove de 137 países emergentes fizeram progressos suficientes para alcançar os objetivos nestas duas áreas: China, Egito, Irã, Líbia, Maldivas, Mongólia, Peru, Síria e Tunísia.
Como o Brasil, 124 chegarão a 2015 sem ter reduzido em 75% a mortalidade materna entre 1990 e 2015, estimam os pesquisadores.
Já o objetivo de diminuir em dois terços a mortalidade entre crianças menores de cinco anos entre 1990 e 2015 seria alcançada por 31 nações emergentes.
No aspecto da mortalidade infantil, o Brasil é apontado como uma "história de sucesso".
A pesquisa estimou em 1990 o Brasil tinha uma mortalidade infantil entre crianças menores de 5 anos de 53 para cada mil nascidas vivas. Dez anos depois a taxa havia caído para 31,5 e chegou neste ano a 20,9.
Em números absolutos, isso significa que a mortalidade tirou a vida de 193 mil crianças em 1990 e deve tirar a de 63 mil neste ano.
 "Achamos que parte disso tem a ver com o esforço do governo de prover acesso universal à saúde. Foi depois da implementação deste princípio na Constituição de 1988 e na reforma de 1996 que registramos a taxa mais rápida de declínio nas mortes de crianças com menos de cinco anos", afirmou Wang.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/bbc/2011/09/20/brasil-descumprira-meta-do-milenio-para-mortalidade-materna-diz-estudo.jhtm?cmpid=facebook

terça-feira, 20 de setembro de 2011

MPF defende privacidade em exames em hospital universitário de Rio Grande




Uma gestante de alto risco teve procedimento ginecológico negado pelo Hospital Universitário Miguel R. Corrêa Junior porque impediu que estudantes de medicina da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) acompanhassem o exame. O Ministério Público Federal moveu ação civil pública, julgada improcedente tanto pela Vara Federal de Rio Grande quanto pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Agora, a Procuradoria Regional da República da 4ª Região (PRR4) apela para que o Supremo Tribunal Federal (STF) mude o entendimento.

O procurador Carlos Eduardo Copetti Leite, autor do recurso, considera que negar atendimento ao paciente que recusa o acompanhamento discente contraria direitos fundamentais como direito à dignidade, à intimidade e à saúde. Segundo ele, a questão transcende o interesse subjetivo da causa. "O objetivo da ação civil pública não é impossibilitar todo e qualquer acompanhamento de estudantes em exames médicos, mas tão somente quando o paciente sinta-se constrangido, humilhado e violado na sua intimidade", afirma.

Para a Justiça, o bem maior a ser protegido neste caso é o da excelência do ensino médico, que privilegia o interesse público de todos os cidadãos que necessitam de cuidados hospitalares. Copetti argumenta que "o grau de realização do direito fundamental ao ensino dos estudantes de medicina não é tamanho a ponto de justificar a não realização ou a restrição do direito à saúde, à intimidade e à dignidade da paciente".

O procurador acrescenta que o hospital da FURG é credenciado ao Sistema Único de Saúde (SUS), sendo remunerado por todos cidadãos para a realização de seus fins. Portanto, o ensino da medicina não pode ser obstáculo à realização de consultas e exames. Além disso, a instituição é referência em relação ao acompanhamento pré-natal de casos de alto risco: é o único em Rio Grande em que tal serviço é oferecido pelo SUS. "Exigir a busca por outra instituição seria até agravar a situação dos interessados, fazendo com que eles dispensem recursos que não possuem para o deslocamento, sendo justamente a hipossuficiência a razão que os leva a procurar um hospital público naquela localidade", defende.    
Acompanhe o caso no TRF4:

Apelação Cível Nº 5001945-73.2010.404.7101

Fonte: Ascom PRR-4.
http://www.prrs.mpf.gov.br/app/iw/nti/publ.php?IdPub=61529