segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O que aconteceu com o Parto?


Na história da humanidade a parteira sempre esteve presente no contexto mais íntimo da mulher, marcadamente nas esferas sexuais e reprodutivas. Por isso, a sabedoria  de dar à luz era adquirida pela convivência entre mulheres e os ensinamentos passados de geração em geração.

Desde o início do século XX, quando houve os primeiros resquícios de hospitalização do parto, as mulheres perderam seus direitos de escolha e foram submetidas às práticas médicas, que partiam do preceito da experiência de dar à luz como um evento patológico e danoso para as mulheres.

Muitos procedimentos sem respaldo científico foram inseridos nas rotinas hospitalares, medicalizando a assistência e impossibilitando a vivência do parto como um evento fisiológico de múltiplos significados: culturais, sexuais, sociais e espirituais.

Na assistência hospitalar e medicalizada ao parto surgiram mitos, por sua vez entendidos como "verdades", que eram transmitidos na formação de escolas médicas.  Esses mitos procuravam dar explicações aos fenômenos naturais que envolviam a gestação e o parto, independentemente de suas validações científicas. Por isso, o parto hospitalar tornou-se tão temido pelas mulheres: deitadas em macas com soros e fórceps, impossibilitadas de se movimentar e vivenciá-lo de forma natural.

Há mais ou menos vinte e cinco anos, diversos movimentos sociais no mundo todo, com a participação de profissionais, estudiosos e usuárias de saúde vieram ao questionamento sobre as práticas na assistência obstétrica. Dentre eles, o surgimento do movimento chamado  Medicina Baseada em Evidência trouxe à luz o balanço entre segurança e efetividade destas práticas que nortearam órgãos importantes da saúde como a OMS (Organização Mundial de Saúde). Assim, diversos mitos acerca do parto e nascimento foram sendo desfeitos, moldando novas concepções nas práticas da assistência obstétrica.

O movimento de mulheres feministas pela humanização do parto trouxe novas perspectivas sobre o significado do parto para a vida das mulheres, redescrevendo sua fisiologia e percebendo que havia necessidade de reconsiderar a importância do parto como um evento fisiológico e natural para melhores resultados de saúde para mulheres e bebês.

Infelizmente hoje, as mulheres brasileiras têm tido pouco acesso às informações que lhes permitam fazer escolhas conscientes durante a gestação e o parto. O difícil acesso a essas informações tornam corriqueiras algumas práticas hospitalares, que deveriam ser erradicadas, segundo o Ministério da Saúde, como por exemplo: utilização do soro com ocitocina de rotina (hormônio sintético para aumentar as contrações), restrições de movimentação durante o trabalho de parto, episiotomia de rotina (corte na vagina) e a própria "moda" das cesáreas marcadas entre muitos outros.

A escolha informada para um parto fisiológico favorece o respeito à diversidade de emoções e sentimentos inseridos nesta vivência de dar à luz na vida das mulheres e suas comunidades, cultivando o ideal de uma sociedade mais consciente de seus valores e livre para decidir sem medos e imposições.

Escolhas devem ser baseadas em informações seguras- diga não aos mitos e imposições.

Bianca Zorzam

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